quarta-feira, dezembro 19, 2007

ASSIM VAI ESTE PAÍS... DE SÓCRATES ATÉ HOJE.




Nota prévia:
Não foi o "esquerdista" Jorge Afonso que escreveu
aquilo que se segue.





"A Justiça criminosa" por Clara Ferreira Alves
in "Pluma Caprichosa", Segunda-feira, 22 de Out de 2007


Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse
um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso.
Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente
agitação sobre tudo e sem concluir nada.
Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia que se sabe
que nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas
consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado,
temporário, desenrascado.
Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a
rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de
Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que
nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente
se passou nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve.
Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas,
pedaços do enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a
prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não
saber o final da história é uma coisa normal em Portugal e que
este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se
vivêssemos ainda em ditadura.
E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar
este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos
blogues, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso
em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos
sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.
Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às
escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente
ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao
Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos
autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga Parques
ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana
às de João Cravinho, há por aí alguém que acredite que algum destes
secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muito alegados crimes,
acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos?

Vale e Azevedo pagou por todos.
Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral
muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se
preocupa com isso apesar de pagar os custos da morosidade, do
secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção.
Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial,
acham tudo "normal" e encolhem os ombros.
Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência
de Leonor Beleza com o vírus da sida?
Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro
afogado num parque aquático?
Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério
dos crimes imputados ao padre Frederico?
Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo
padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?
Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja
cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?
Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios
e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.
No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível,
alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a
condenar alguém? As últimas notícias dizem que Gerry McCann não
seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta
investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não
substancia.
E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu?
E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?
E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos,
alguns menores, onde tanta gente"importante" estava envolvida, o
que aconteceu?
Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.
E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que
ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol,
milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as
destruiu e porquê?
E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios
escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é
que isso pára?
O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz,
apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha
para a sua filha.
E aquele médico do Hospital de Santa Maria suspeito de ter
assassinado doentes por negligência? Exerce medicina?
E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de
colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega,
é surda, muda, coxa marreca.
Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos
são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao
esquecimento. Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar
saber a verdade.

Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem
eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e
abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto
que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.
Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças,
de protecções e lavagens, de corporações e famílias, de eminências e
reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da
verdade. Este é o maior fracasso da democracia portuguesa e contra
isto o PS e o PSD que fizeram? Assinaram um iníquo pacto de justiça.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

ASSIM VAI ESTE PAÍS... DE SÓCRATES (???) ATÉ HOJE.

LOLOLOL....
E ingénua que sou... que pensava que já vinha do 25-04-74...

Deve ter razão... com o BE isto entra na linha...
LOOOOOOL...!!!

MAFFF

8:32 da tarde  

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